Foto: Fernanda Borges/G1 |
O pedreiro Marco Aurélio Oliveira Costa, de 24 anos, preso
suspeito de matar asfixiada a filha Ana Júlia, de 6 meses, negou ter cometido o
crime ao ser apresentado pela Polícia Civil, na manhã desta sexta-feira (6).
Ele disse que aconteceu um “acidente”. No entanto, segundo o delegado André
Soares Veloso, há indícios de que ele matou a menina ao tentar abafar o choro
com um cobertor. Além dele, que já respondia a um processo por maus-tratos, a
mãe da criança, de 16 anos, também foi apreendida por suspeita de omissão, em
Bela Vista de Goiás, na Região Metropolitana de Goiânia.
Além de negar o homicídio, o pai alegou que nunca agrediu a
menina. "Eu coloquei o cobertor no corpo dela como sempre fazia. Aí minha
mulher viu que ela sufocou e me gritou. Eu cheguei a chupar o narizinho dela,
mas não teve mais jeito. Eu nunca agredi minha filha, como me acusam. O que
aconteceu foi acidente", relatou.
O bebê morreu na madrugada de quinta-feira (5). Segundo a
Polícia Civil, ao perceber que a menina estava sem vida, o suspeito e a mãe
levaram Ana Júlia para o Hospital Municipal de Bela Vista. Lá, após avaliação
médica, foi constatada a morte e o Conselho Tutelar foi avisado.
De acordo com o delegado Andre Veloso, o laudo do Instituto
Médico Legal (IML) comprovou que a criança morreu por asfixia. "O relato
da mãe e de outra filha de Marco, de 7 anos, que presenciou tudo, detalham que
ele enrolou um cobertor na cabeça da menina, depois jogou uma blusa por cima e
ainda colocou os protetores de berço. Ele nega, mas não havia como um bebê se
seis meses ter se enrolado desta maneira e ele foi o último a estar com ela.
Não há dúvidas sobre o crime”, afirmou.
O homem vai responder
por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e
incapacidade de defesa da vítima. Caso seja condenado, a pena pode chegar a 30
anos de prisão. Após a apresentação, ele foi encaminhado para a cadeia pública
de Bela Vista de Goiás.
Já a mãe da menina vai responder por ato infracional análogo
ao crime de homicídio qualificado, na figura omissiva. “Ela contou que a filha
chorava muito e que, normalmente, mamava três vezes todas as noites, mas isso
não aconteceu na ocasião. Ela diz que escutou a menina gemer, que era o momento
em que provavelmente ela já estava agonizando, mas mesmo assim não foi
verificar o que acontecia. Mais tarde, quando foi, já não havia o que fazer.
Por isso ela deverá responder pela omissão”, ressaltou Veloso.
Após ser ouvida, a menor foi encaminhada para o Ministério
Público Estadual de Goiás (MP-GO), que deve analisar o caso para pedir, ou não,
que ela cumpra medida socioeducativa.
Morte
Na noite anterior a morte da criança, o pedreiro diz que
trabalhou, ajudou uma irmã a fazer uma mudança e fez o consumo de três latas de
cerveja. Depois, seguiu para casa, quando colocou a filha para dormir em um
QUARTO separado ao dele. “Era umas 21h quando a gente colocou ela para dormir.
Aí, por volta de umas 5h, quando minha mulher acordou para ir ao banheiro, viu
que a menina estava sufocando. Eu tinha coberto ela, mas não no rosto. Se isso
acontecesse ela gritava na hora, mas dessa vez não gritou”, contou.
Apesar do pai ressaltar que houve um acidente, o delegado
diz não ter dúvidas de que ela foi assassinada. “Podemos afirmar com tranqüilidade
que ele é o autor do homicídio qualificado contra a bebê Ana Júlia. Ele já tem
um histórico de violência, pois, em novembro do ano passado, quando ela tinha
apenas quatro meses de idade, foi lavrado um TCO [Termo Circunstanciado de
Ocorrência] em desfavor dele, pois toda vez que ela chorava ele mordia a
criança. Por isso, quando houve a morte desconfiamos dele. Aí conseguimos a
testemunha ocular, que é a menina mais velha, que relatou com riqueza de
detalhes como o pai abafava o som do choro com objetos”.
Apesar dos indícios e provas colhidas, segundo o delegado,
será pedida a reconstituição do crime. “Faremos isso só para rechaçar qualquer
dúvida, já que ele não confessa. Mas as testemunhas ouvidas relataram que ele é
uma pessoa agressiva e, somado ao depoimento da filha e da mãe, tenho certeza
do que aconteceu”.
Para o delegado, a frieza do pai também demonstra que ele
não tinha afeto pela criança. “Chamou atenção que, em momento algum, o Marco
Aurélio ficou comovido com a morte. Ele ficou na defensiva tentando nos
convencer que não houve crime e nem chegou a sofrer o luto, que era a postura
que um pai de verdade deveria ter. Além disso, ele nunca chamou a criança pelo
nome. Ele sempre fala dela como se fosse distante dele. Todos os relatos de
familiares dizem que o pai tinha aversão à criança e ao choro dela”.
Maus-tratos
Veloso ressaltou que, quando houve a denúncia sobre
maus-tratos, em novembro do ano passado, a mãe colaborou com a polícia e
confirmou que o pai agredia a menina. “Na época ela foi ouvida e também
confirmou que o pai mordia a criança, que apresentava ferimentos nos braços,
nos dedos e nas nádegas, que chegavam a sair sangue. Ela também disse que ele
já agiu com violência contra ela, mas que o caso nunca foi denunciado”.
Questionado sobre as agressões, o suspeito negou. “A única
coisa que eu não fazia era pegar ela [Ana Júlia], pois eu não gostava de pegar
menino pequeno. Nunca peguei menino novo, pois tenho medo. Aí o Conselho
Tutelar disse que eu estava agredindo ela, mas isso nunca aconteceu. Gastei
muito remédio com ela para sair essas marcas nela, causadas por alergia. Também
nunca agredi minha mulher e minha outra filha e por que eu iria agredir a
menor?”, questionou ele.
Além disso, o pai rebateu a informação de que a filha mais
velha tenha presenciado a morte da criança. “Ela estava dormindo quando
colocamos a bebê para dormir. Ela não viu nada do que aconteceu. O delegado
fica inventando coisas, por isso estão me acusando”, disse.
Após ser ouvida pela polícia, a menina mais velha foi
entregue pelo Conselho Tutelar à mãe biológica. O corpo de Ana Júlia foi
enterrado na tarde de quinta-feira (5) em Bela Vista de Goiás.
Fonte: G1 Goiás