Após 15 dias sem ver as três filhas, Luzia Oliveira da
Costa, de 29 anos, não conteve as lágrimas ao encontrá-las. As meninas a
aguardavam com os avós maternos. Luzia é 1 entre as 13 presas da Unidade
Prisional de Jataí que têm filhos e participa do Programa Amparando Filhos –
Transformando Realidades com a Comunidade Solidária do Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás (TJGO).
O programa tem como objetivo principal proteger e amparar
integralmente filhos de mães reeducandas. No entanto, uma das ações é a visita
humanizada, ou seja, fora da prisão prevalecendo papéis de mães e filhos,
ressaltando o vínculo materno. Em Jataí as visitas acontecem a cada 15 dias no
Centro de Referência Especializado de Assistencial Social do Município (Creas).
Mas, nesta quarta-feira (14), tudo foi diferente. O local escolhido para o
encontro foi um espaço de festa infantil alugado pela prefeitura com
brinquedos, músicas, bolo, brindes e entrega de presentes feita pelo Papai
Noel.
A emoção para as crianças foi em dobro, o encontro com a mãe
e com o “bom velhinho”. Até Luzia ficou feliz ao ver o Papai Noel. “Queria
pedir para ele minha liberdade”, disse. Porém, ela sabe que só vai ganhá-la
quando cumprir a pena toda. “Quando eu sair quero arrumar um serviço para
cuidar das minhas filhas e dos meus pais”, planejou.
São os pais de Luzia que cuidam das três filhas – de 11, 7 e
3 anos de idade. As meninas chamam a avó, Marta Helena Oliveira da Costa, de
mãe. “As mais velhas não tinham convívio com a mãe. A mais nova nasceu e ficou
com ela, mas quando fez um ano ela foi presa e veio também morar comigo. Mas
foi por causa do programa que houve a reaproximação da mãe com outras”, contou.
Além das três, Luzia teve uma outra filha, hoje a menina
está com 9 anos, mas foi entregue para a adoção e está com uma família. “Luzia
é usuária de drogas, mas tenho fé em Deus que agora ela vai mudar. Essas
meninas precisam dela. Já não têm pai e agora a mãe está presa”, revelou Marta
Helena. Ela disse que o pai da mais nova está preso, o da mais velha as deixou
e hoje não se tem notícias dele e o da filha do meio não se sabe quem é. “Ela
me pergunta quem é o pai dela. Eu falo que pai é aquele que cria e que ela pode
chamar o avô de pai”, afirmou.
Camila Grande Marques, de 28 anos, cumpre prisão domiciliar.
Ela está no programa desde o início, em outubro de 2015, e garante que já colhe
os frutos. “Minha vida mudou. Hoje eu trabalho e cuido das minhas duas filhas”,
disse, se referindo a Isabela de 2 anos e Isadora de 11 meses. O pai das
meninas está preso. “Tenho total apoio de todos. Até do juiz. Eles passam a nos
ver de forma diferente. Sou exemplo de que, se a gente quiser, muda sim”,
ressaltou. E, no final, ainda foi conversar com Luzia. “Sei tudo o que você
está passando, mas fica firme na vida do bem”, aconselhou.
De morador de rua a
Papai Noel
E não teve quem não se emocionou com o Papai Noel. Antônio
Marmo da Costa, de 60 anos, é ex-morador de rua e chegou em um trenzinho ao som
de violino. No começo, ele ficou meio desajeitado, mas logo depois foi ganhando
o jeito de Papai Noel de verdade. Tirou fotos com as crianças e entregou
presentes para todas.
Sem família, hoje ele vive no Condomínio Vila Vida, um
abrigo para idosos. “Já passei por tanta coisa, fome, frio. Hoje virei Papai
Noel”, disse. Para quem nunca teve uma infância de verdade, tornar-se o
velhinho dessas crianças tem um gostinho especial. “Eu sempre fui ajudado, vivi
de favor a vida toda. Pedia comida e até roupa para os outros, dormia na calçada
e agora ajudar é muito bom”, frisou emocionado. “Estou de vida nova. Até Papai
Noel eu virei”, brincou.
A organização do evento começou um dia antes e ficou a cargo
da equipe do Creas de Jataí. Além do Papai Noel, houve a ajuda de dois menores,
um em situação de rua e ou que cumpre medida socioeducativa. Os brinquedos
foram comprados pelos protetores solidários, as bonecas de pano e os kit foram
feitos com material reciclável e fabricados por funcionárias do Creas. O bolo
foi cedido pela coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social
(Cras). “Tudo isso graças aos parceiros. Ver a felicidade dessas crianças não
tem preço”, finalizou a coordenadora do Creas.
Texto: Arianne Lopes / Fotos:
Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO
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